
Por Diogo Ferreira
A introdução de novas tecnologias sempre despertou uma mistura complexa de fascínio e temor na sociedade. Desde a invenção do rádio, passando pela televisão, internet e, mais recentemente, a educação a distância (EAD), cada avanço tecnológico foi inicialmente recebido com uma dose de ceticismo e preocupações sobre seu impacto no aprendizado e nas interações humanas. Hoje, a Inteligência Artificial (IA) está no centro desse debate, enfrentando desafios similares de aceitação que marcaram as tecnologias anteriores.
Desde a implementação da EAD no Poder Judiciário em 2009, vivenciamos de perto as barreiras de preconceito e resistência. A qualidade dos cursos a distância era posta em dúvida, exigindo um esforço considerável para mostrar que poderiam ser tão bons ou melhores que os presenciais. Esse processo de sensibilização e adaptação, que se estendeu por anos, revelou-se fundamental quando, durante a pandemia de Covid-19, a capacidade de continuar capacitando servidores via EAD provou ser indispensável, demonstrando que a gradual aceitação de novas tecnologias no processo educativo é não só possível como benéfica.
Analisando a natureza do medo diante das novas tecnologias, percebemos que ele decorre de diversos fatores, como a ansiedade perante o desconhecido e o receio de sermos substituídos ou de perdermos controle sobre nossas próprias criações. Esse medo, entretanto, não é intransponível. Históricos como o do rádio, da TV e da própria internet nos mostram que, com o tempo e uma melhor compreensão de suas aplicações e benefícios, a desconfiança dá lugar à integração dessas tecnologias no cotidiano das pessoas. A chave para superar a resistência reside na educação e na transparência sobre como essas ferramentas funcionam e podem ser utilizadas para enriquecer, e não diminuir, a experiência humana.
A IA, como foi discutido no 28º Congresso Internacional ABED de Educação a Distância, realizado no Rio de Janeiro em 2023, apresenta-se como uma nova fronteira a ser explorada no campo educacional. Acadêmicos, professores, alunos e profissionais da educação reuniram-se para debater como incorporar a IA de forma efetiva, porém responsável, nos processos de aprendizagem. Apensar de não haver um consenso, a grande maioria concorda que, assim como aconteceu com a EAD, a IA possui o potencial para transformar a educação, tornando-a mais personalizada, acessível e inclusiva, desde que seus desafios e implicações éticas sejam devidamente abordados.
Portanto, a jornada para a aceitação da IA na sociedade, especialmente na educação, requer uma abordagem multifacetada que considere aspectos psicológicos, neurológicos e antropológicos do medo e da resistência às mudanças. Superar esses desafios implica reconhecer e abordar as preocupações legítimas das pessoas, ao mesmo tempo em que se destacam os benefícios e as oportunidades que a IA pode oferecer. Com otimismo e aprendizados tirados da experiência com a EAD, podemos avançar em direção a um futuro onde a IA se torne uma aliada valiosa na promoção de um aprendizado mais rico, diversificado e acessível a todos.
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